Wahby Khalil, de 41 anos, teve traumatismo craniano, hemorragia cerebral, um dente quebrado e outros afrouxados; agressor diz que só vai falar na Justiça. g1 ouviu professores de física e neurologista que explicam força de golpe.
Bastou um soco para o síndico Wahby Khalil, de 41 anos, ir para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na quinta-feira (17), no Distrito Federal. Ele teve traumatismo craniano, hemorragia cerebral, quebrou um dente e outros ficaram frouxos após ser agredido, dentro do condomínio, em Águas Claras, pelo morador Henrique Paulo Sampaio Campos, de 49 anos, que também é personal trainer, lutador e treinador de boxe (reveja momento da agressão no vídeo acima).
O personal trainer se apresentou na 21ª Delegacia de Polícia, na tarde de segunda-feira (21), cinco dias após a agressão e ficou em silêncio. A defesa do lutador informou que ele só irá se manifestar na Justiça.
Um soco na cara pode causar sequelas e, até mesmo, levar à morte. Especialistas ouvidos pelo g1 dizem que a pancada é ainda mais forte quando dada por alguém que domina a técnica. Segundo a neurologista Thaís Martins, a pancada de um soco pode ser comparada com a de uma queda ou com um acidente automobilístico, com impacto direto da cabeça no volante, por exemplo.
“O traumatismo craniano pode causar sequelas graves, a depender da localização da lesão cerebral, como quando o sangramento, por exemplo, acomete áreas responsáveis pela linguagem ou motricidade”, diz a médica.
O professor de física da Universidade de Brasília (UnB), Tarcisio Marciano Da Rocha, lembra que a musculatura, muito mais desenvolvida em alguém treinado, aumenta a força do golpe.
“Eles treinam os músculos para dar soco com força. Se com luva, lutadores já levam outro profissional a nocaute, imagina sem luva? Pode até matar”, diz Tarcisio .
Henrique Paulo Sampaio Campos foi repreendido pela Federação de Boxe de Brasília, que repudiou a atitude do lutador. Ele deveria participar de uma competição no próximo domingo (27), mas foi afastado.
“No nosso entendimento, não há nada que justifique essa atitude tão violenta”, disse à TV Globo Eudes Santos, diretor da federação.
‘Nocaute’
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Por que soco de lutador é mais grave que um soco de pessoa comum — Foto: Arte g1
Especialistas ouvidos pelo g1, explicam que um soco aplicado com força, técnica e velocidade pode “nocautear” uma pessoa na hora, como aconteceu com Khalil. O professor de física Francisco Carlos da Costa explica que o poder de um soco depende da massa corporal, da velocidade e da potência aplicada no movimento, o que gera a chamada “energia cinética“.
“O lutador sabe aplicar o soco na direção e sentido de maneira a nocautear a pessoa. Nos ringues, a luva amortece um pouco o impacto e tira o impulso, ou seja, a força e, consequentemente, o contato com o rosto da pessoa”, diz o professor.
Francisco Carlos da Costa explica que a luva gera uma área de contato muito maior no rosto da pessoa e, se a área de contato é maior, logo, a pressão é menor. “A luva permite uma redução do impacto da força”, explica.
O síndico do condomínio de Águas Claras levou um soco no rosto dado por um lutador sem luvas.
A agressão
Imagens de uma câmera de segurança da academia do condomínio registraram o momento em que o síndico do prédio, de camisa rosa, conversava com o personal trainer, de camisa preta. Um funcionário do condomínio, também de preto, estava no local.
Personal trainer agride síndico em condomínio de Águas Claras, no DF — Foto: Reprodução
Eles discutiam sobre o saco de boxe colocado na academia, pelo lutador. Em um determinado momento, Henrique ameaçou bater em Wahby Khalil, que colocou o braço na frente, para impedir a agressão.
No entanto, em seguida, o lutador deu um soco no síndico, que caiu no chão e bateu a cabeça na quina da esteira. As imagens mostram que, mesmo com o homem caído, o lutador parece continuar com as ameaças.
Na terça-feira (22), após ter alta do hospital, o síndico disse que já conhecia o temperamento explosivo do personal trainer. Ele contou que, em algumas reuniões de condomínio, o lutador entrou em conflito com outros moradores.
“Todas as vezes que foi colocado um problema no condomínio, eu sempre busquei a solução. Eu estava dando uma resposta de que a gente iria resolver o problema do saco de boxe”, disse Khalil.
Segundo o síndico, no dia da agressão, ele e um funcionário do condomínio – que também aparece nas imagens – tentavam explicar que o saco de boxe estava causando problemas para a estrutura das paredes da academia. Mas que Henrique “começou a falar de maneira exaltada”.
“A única coisa que lembro é que, nessa hora, eu disse a ele que ninguém estava gritando ou agredindo ele. Foi quando eu levei a porrada”, diz Khalil.
Para o síndico, se por um lado o episódio é visto como agressão, por outro lado, ao analisar as imagens, o soco pode ser entendido até como tentativa de homicídio. “É muito doído ver aquelas imagens e ver que, depois que eu estava no chão, a pessoa vem pra cima de mim e desdenha algo. Isso, pra mim, se torna tentativa”, declarou, Khalil.
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