Após síndico parar na UTI por causa de soco na cara, dado por boxeador, especialistas explicam impacto de golpe

23 de março de 2022

Wahby Khalil, de 41 anos, teve traumatismo craniano, hemorragia cerebral, um dente quebrado e outros afrouxados; agressor diz que só vai falar na Justiça. g1 ouviu professores de física e neurologista que explicam força de golpe.

personal trainer se apresentou na 21ª Delegacia de Polícia, na tarde de segunda-feira (21), cinco dias após a agressão e ficou em silêncio. A defesa do lutador informou que ele só irá se manifestar na Justiça.

 

Um soco na cara pode causar sequelas e, até mesmo, levar à morte. Especialistas ouvidos pelo g1 dizem que a pancada é ainda mais forte quando dada por alguém que domina a técnica. Segundo a neurologista Thaís Martins, a pancada de um soco pode ser comparada com a de uma queda ou com um acidente automobilístico, com impacto direto da cabeça no volante, por exemplo.

“O traumatismo craniano pode causar sequelas graves, a depender da localização da lesão cerebral, como quando o sangramento, por exemplo, acomete áreas responsáveis pela linguagem ou motricidade”, diz a médica.

 

O professor de física da Universidade de Brasília (UnB), Tarcisio Marciano Da Rocha, lembra que a musculatura, muito mais desenvolvida em alguém treinado, aumenta a força do golpe.

“Eles treinam os músculos para dar soco com força. Se com luva, lutadores já levam outro profissional a nocaute, imagina sem luva? Pode até matar”, diz Tarcisio .

Henrique Paulo Sampaio Campos foi repreendido pela Federação de Boxe de Brasília, que repudiou a atitude do lutador. Ele deveria participar de uma competição no próximo domingo (27), mas foi afastado.

“No nosso entendimento, não há nada que justifique essa atitude tão violenta”, disse à TV Globo Eudes Santos, diretor da federação.

 

‘Nocaute’

 

Por que soco de lutador é mais grave que um soco de pessoa comum — Foto: Arte g1

Por que soco de lutador é mais grave que um soco de pessoa comum — Foto: Arte g1

Especialistas ouvidos pelo g1, explicam que um soco aplicado com força, técnica e velocidade pode “nocautear” uma pessoa na hora, como aconteceu com Khalil. O professor de física Francisco Carlos da Costa explica que o poder de um soco depende da massa corporal, da velocidade e da potência aplicada no movimento, o que gera a chamada “energia cinética“.

“O lutador sabe aplicar o soco na direção e sentido de maneira a nocautear a pessoa. Nos ringues, a luva amortece um pouco o impacto e tira o impulso, ou seja, a força e, consequentemente, o contato com o rosto da pessoa”, diz o professor.

 

Francisco Carlos da Costa explica que a luva gera uma área de contato muito maior no rosto da pessoa e, se a área de contato é maior, logo, a pressão é menor. “A luva permite uma redução do impacto da força”, explica.

O síndico do condomínio de Águas Claras levou um soco no rosto dado por um lutador sem luvas.

A agressão

 

Imagens de uma câmera de segurança da academia do condomínio registraram o momento em que o síndico do prédio, de camisa rosa, conversava com o personal trainer, de camisa preta. Um funcionário do condomínio, também de preto, estava no local.

Personal trainer agride síndico em condomínio de Águas Claras, no DF — Foto: Reprodução

Eles discutiam sobre o saco de boxe colocado na academia, pelo lutador. Em um determinado momento, Henrique ameaçou bater em Wahby Khalil, que colocou o braço na frente, para impedir a agressão.

No entanto, em seguida, o lutador deu um soco no síndico, que caiu no chão e bateu a cabeça na quina da esteira. As imagens mostram que, mesmo com o homem caído, o lutador parece continuar com as ameaças.

Na terça-feira (22), após ter alta do hospital, o síndico disse que já conhecia o temperamento explosivo do personal trainer. Ele contou que, em algumas reuniões de condomínio, o lutador entrou em conflito com outros moradores.

“Todas as vezes que foi colocado um problema no condomínio, eu sempre busquei a solução. Eu estava dando uma resposta de que a gente iria resolver o problema do saco de boxe”, disse Khalil.

 

Segundo o síndico, no dia da agressão, ele e um funcionário do condomínio – que também aparece nas imagens – tentavam explicar que o saco de boxe estava causando problemas para a estrutura das paredes da academia. Mas que Henrique “começou a falar de maneira exaltada”.

“A única coisa que lembro é que, nessa hora, eu disse a ele que ninguém estava gritando ou agredindo ele. Foi quando eu levei a porrada”, diz Khalil.

Para o síndico, se por um lado o episódio é visto como agressão, por outro lado, ao analisar as imagens, o soco pode ser entendido até como tentativa de homicídio. “É muito doído ver aquelas imagens e ver que, depois que eu estava no chão, a pessoa vem pra cima de mim e desdenha algo. Isso, pra mim, se torna tentativa”, declarou, Khalil.

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